Características de Convites Poderosos para Estruturas Libertadoras

por Christiaan Verwijs


Elaborando Convites Poderosos para Estruturas Libertadoras

Estruturas Libertadoras são técnicas fáceis de aprender, fáceis de facilitar, que constroem engajamento e envolvimento em grupos de qualquer tamanho.  Estamos utilizando-as há algum tempo. Uma coisa que aprendemos é que fazer bons convites é 90% do trabalho. Neste post, compartilhamos as lições que aprendemos e ainda estamos aprendendo.

A maioria das Estruturas Libertadoras começa com um convite. Isto é, a questão ou tópico que você quer que as pessoas explorem com a Estrutura Libertadora que você tem em mente. Para o Impromptu Networking, pode ser “O que você quer obter e oferecer a esse grupo?”. Para TRIZ, pode ser “O que podemos fazer para garantir que vamos falhar em alcançar nosso objetivo?”. Considerar os convites como meras perguntas não lhes faz justiça – algo que descobrimos por meio de repetidos fracassos.

User Experience Fishbowl em pleno andamento. O convite pode ser visto no verso (‘Quais são as dores, delícias e surpresas em mudar o ambiente das equipes Scrum?” Foto: The Liberators

Apesar das Estruturas Libertadoras serem fáceis de aprender, tivemos um duro caminho quando se trata de escrever bons convites. Começamos com convites não tão bem-sucedidos como:

“O que você gosta no Scrum?”

“Como você se sente trabalhando em pares?”

“O que você mudaria em nossa nova política de desenvolvimento?”

“Qual é a pergunta que você tem para hoje?”

Uma coisa que percebemos sobre esses convites é que eles não despertaram conversas reais. As pessoas trocaram suas visões e foi só isso. Foi bastante raso. Combinando nosso próprio aprendizado e as contribuições criativas de Keith McCandless, Fisher Qua e de outros pioneiros, começamos a perceber que nossos convites demonstravam que ainda estávamos perdendo o ponto das EL.

O que não percebemos

Quando você começa a usar as Estruturas Libertadoras, e especialmente quando você lê alguns dos incrivelmente criativos exemplos dos convites do site oficial, é fácil imaginar “Como as pessoas vão conseguir entender esse convite?”. Pegue o (poderoso) convite para UX Fishbowl: “Quais são as dores, delícias e surpresas sobre X?” E se as pessoas não entenderem as palavras? E se o convite for confuso porque perguntam coisas diferentes? E se for muito abstrato? E se eles pensarem que é muito vago?

“Foi quando começamos a entender algo fundamental sobre Estruturas Libertadoras”

Inicialmente nós tentamos deixar os convites mais simples, essencialmente “emburrecendo-os”. Esperávamos que isso permitisse conversas mais focadas onde todos pudessem contribuir. Como facilitadores, pressupomos que simplificando os convites seria mais fácil para o grupo chegar a uma decisão (e seguir adiante). Mas isso não aconteceu. Pelo contrário.

Foi quando começamos a entender algo fundamental sobre as Estruturas Libertadoras, e algo que as coloca bem acima de “uma porção de técnicas de facilitação”:

  • Estruturas Libertadoras não são sobre expressar opiniões. Pode-se dizer que elas nem são sobre resolver problemas. Elas são sobre explorar juntos um “espaço problema”. O propósito não é convencer, atribuir culpa ou julgar algo. O propósito é compreender conjuntamente um desafio  e descobrir as opções disponíveis;
  • Estruturas Libertadoras confiam e se baseiam na inteligência e criatividade do grupo como um todo. Está tudo bem se indivíduos têm dificuldade com uma estrutura ou não têm uma resposta clara para um convite. Eles ainda podem participar da conversa que segue e contribuir com as idéias que emergem do grupo como um todo;
  • Estruturas Libertadoras pressupõem que as pessoas são espertas, inteligentes e cuidadosas.  As pessoas são perfeitamente capazes de lidar com ambiguidade, abstração e metáforas complexas.

Características de um bom convite

Com o tempo, descobrimos alguns padrões naquilo que faz bons convites. Ainda estamos aprendendo e descobrindo, mas essas são as características que descobrimos até agora (com a ajuda dos pioneiros):

  • um bom convite não julga ou enquadra um desafio de uma maneira específica;
  • um bom convite abre caminhos para pensamentos ao invés de fechá-los;
  • um bom convite é especificamente-ambíguo uma vez que é específico sobre o “espaço problema” que as pessoas vão explorar enquanto é ambíguo sobre as perspectivas que eles podem tomar (ex: bom, ruim, melhoria, mudança). Essa ambiguidade é geralmente introduzida oferecendo palavras diferentes para provocar perspectivas diferentes;
  • um bom convite é levemente abstrato, se apoiando na inteligência do grupo. Essa abstração também permite que as pessoas se conectem com o convite em diferentes níveis de experiência, diferentes perspectivas e diferentes partes do cérebro.
Com esse grande grupo (121 participantes), optamos pela projeção digital dos convites para algumas das estruturas. Foto: The Liberators

Alguns exemplos de convites poderosos

Com essas orientações em mente, nós temos criado convites que são incrivelmente capazes de aprofundar a conversa que acontece durante as estruturas. Curiosamente, também recebemos menos perguntas de esclarecimento dos participantes quando apresentamos um convite. Alguns exemplos recentes são:

“Independentemente da sua experiência, o que parece importante, útil ou desafiador para você sobre Estruturas Libertadoras?”

“O que você precisa parar de fazer para aprofundar ou enriquecer as interações em grupo?”

“Compartilhe uma história de sua jornada para, através ou de um desafio que você enfrentou ao trabalhar com grupos.”

“O que você viu, ouviu ou observou durante o primeiro dia deste workshop?”

“Qual é a sua experiência em causar impacto em um time sem ser parte dele?”

Dicas úteis para escrever bons convites

  • Escrever bons convites realmente toma a maior parte do tempo. Escolher as estruturas que você quer usar é a parte mais simples;
  • Há vários bons exemplos nesse documento que você pode expandir, modificar ou usar para enriquecer seu vocabulário. Você pode pegar 10 modelos diferentes e tentar completar o máximo deles dentro de 30 segundos. Você pode repetir esse processo, ou compartilhar com um grupo para despertar a criatividade;
  • Trabalhe nos convites junto com outras pessoas. É útil trocar ideias uns com os outros. Se você estiver sozinho, faça bom uso da Comunidade EL no Slack;
  • Confira as sequência (strings) que foram usados nos vários encontros de Praticantes das Estruturas Libertadoras na Holanda para inspiração;
  • Junte-se ao Dutch User Group e participe de uma das próximas reuniões para praticar e aperfeiçoar seus convites com a ajuda dos outros.
  • Junte-se à Comunidade Brasileira de Praticantes e participe dos Encontros e Reuniões para praticar e aperfeiçoar seus convites com a ajuda dos outros.

Pensamentos finais

Não estamos de forma alguma no final de nossa jornada para criar bons convites. Mas, baseados no feedback que temos recebido dos participantes, estamos melhorando. Esperamos que você se beneficie de nosso aprendizado. Estamos ansiosos para ver os convites que você criou :).

Texto de autoria de Christiaan Verwijs traduzido por Maria Carolina Mateus, Bianca Schwartz Calheiros e Fernando Loureiro, com a autorização do autor.

Acesse o artigo original aqui.

Estruturas Libertadoras são de autoria e curadoria de Henri Lipmanowicz e Keith McCandless, apoiados por uma série de usuários e praticantes

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